domingo, 14 de dezembro de 2014

Ela, a multidão e a chuva

Ela escutou o barulho da multidão, parecia que falavam uma só voz e que todos os que iam e vinham compunham um único corpo cheio e vazio. Não havia cumprimentos, porque ninguém se conhecia. Não havia sorrisos, não havia gestos com as mãos. Não havia, não havia...
E ela sentiu-se só, mesmo com tantos a sua volta. Seu coração doía, e tinha vontade de partilhar sua dor, de parar alguém e pedir um abraço, de receber um carinho ameno e ouvir que tudo ia ficar bem.
Seus olhos procuravam os olhos de alguém, mas só encontravam vazios em seu lugar. Suspirou triste pela vã procura, sentou-se um banco e esperou a dor passar. Tudo passa, tudo passa!

Começou a chover e as gotas tocavam seu cabelo e sua pele envolvendo-a em um clima todo diferente, escorrendo por sua têmpora e misturando-se com suas lágrimas, mas levando-as consigo. Deixou-se fazer parte da chuva, e quando ela acabou levantou-se e sentiu-se pronta para enfrentar qualquer clima, apesar de estar sozinha na multidão.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Lendo na praia

Em um dia ensolarado, andando na praia, pensei em ver o que sempre enche meus olhos: crianças brincando com baldes e pás, com o corpo tostado a milanesa, em uma cor que nos convida a construir castelos de areia e sonhos também, pensei em ver homens e mulheres pulando ondas, um ou outro extasiado pela primeira vez no mar. Imagens e cores que os dias de sol a beira mar sempre trazem...

Mas hoje vi algo diferente: eles estavam sentados, um ao lado do outro, em uma cumplicidade que só o tempo permite encontrar, em uma das mãos de cada um havia um livro, e seus olhos acompanhavam a cadências das leituras empreendidas, e as mãos, que estavam livres, se encontravam e se uniam em um tom quase casual.

A cena me foi desvelada por um comentário: "Como se vem para a praia para ler?". Olhei com atenção para o casal que parecia alheio a tudo a sua volta, mas percebi nuances que um primeiro olhar não revela. O senhor, mesmo com o olhar fixo na leitura que realizava, passava levemente o polegar sobre o dorso da mão de sua esposa e vez por outra brincava com a aliança que ele havia posto em suas mãos, e que parecia ter muito tempo que ali estava. A leitora fincava levemente seus pés na areia e brincava fazendo círculos, indo e voltando na cadência da leitura.

Sentei-me um pouco atrás do casal, e continuei a apreciar a vista que eles emolduravam, pareciam pertencer aquele lugar, pareciam que só eles estavam ali. Lembrei do comentário que me levou aquela paisagem e sorri, sabia a resposta à pergunta retórica: Se vem a praia para ler quando o mar, a praia e o céu, quando o paraíso não está fora, mas dentro de você.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Dia diferente

Hoje foi um dia diferente, entrei no shopping acompanhada de dois rapazes, que andavam ora ao meu lado ora à minha frente, podia contemplar a forma de caminhar e lembrar dos primeiros passos desordenados dados anos atrás.
Escolhiam as roupas e as cores com segurança, mas voltavam os olhos pra mim esperando aprovação, lembrava então da festa que faziam quando chegava em casa com roupas novas, parecidas, mas nunca iguais!
Na volta para o carro, eu não segurava nenhuma sacola, e tinha o apoio do braço para descer a rampa, lembrei de quando eu era o apoio e o colo e quando eu carregava sacolas, brinquedos, fraldas!
Hoje foi um dia diferente, dia de comprar os primeiros ternos dos meus rapazes!