Ela escutou o barulho da multidão, parecia que falavam uma
só voz e que todos os que iam e vinham compunham um único corpo cheio e vazio.
Não havia cumprimentos, porque ninguém se conhecia. Não havia sorrisos, não
havia gestos com as mãos. Não havia, não havia...
E ela sentiu-se só, mesmo com tantos a sua volta. Seu
coração doía, e tinha vontade de partilhar sua dor, de parar alguém e pedir um
abraço, de receber um carinho ameno e ouvir que tudo ia ficar bem.
Seus olhos procuravam os olhos de alguém, mas só encontravam
vazios em seu lugar. Suspirou triste pela vã procura, sentou-se um banco e
esperou a dor passar. Tudo passa, tudo passa!
Começou a chover e as gotas tocavam seu cabelo e sua pele
envolvendo-a em um clima todo diferente, escorrendo por sua têmpora e
misturando-se com suas lágrimas, mas levando-as consigo. Deixou-se fazer parte
da chuva, e quando ela acabou levantou-se e sentiu-se pronta para enfrentar
qualquer clima, apesar de estar sozinha na multidão.