Em um dia ensolarado, andando na praia, pensei em ver o que
sempre enche meus olhos: crianças brincando com baldes e pás, com o corpo
tostado a milanesa, em uma cor que nos convida a construir castelos de areia e
sonhos também, pensei em ver homens e mulheres pulando ondas, um ou outro
extasiado pela primeira vez no mar. Imagens e cores que os dias de sol a beira
mar sempre trazem...
Mas hoje vi algo diferente: eles estavam sentados, um ao
lado do outro, em uma cumplicidade que só o tempo permite encontrar, em uma das
mãos de cada um havia um livro, e seus olhos acompanhavam a cadências das
leituras empreendidas, e as mãos, que estavam livres, se encontravam e se uniam
em um tom quase casual.
A cena me foi desvelada por um comentário: "Como se vem
para a praia para ler?". Olhei com atenção para o casal que parecia alheio
a tudo a sua volta, mas percebi nuances que um primeiro olhar não revela. O
senhor, mesmo com o olhar fixo na leitura que realizava, passava levemente o
polegar sobre o dorso da mão de sua esposa e vez por outra brincava com a
aliança que ele havia posto em suas mãos, e que parecia ter muito tempo que ali
estava. A leitora fincava levemente seus pés na areia e brincava fazendo
círculos, indo e voltando na cadência da leitura.
Sentei-me um pouco atrás do casal, e continuei a apreciar a
vista que eles emolduravam, pareciam pertencer aquele lugar, pareciam que só
eles estavam ali. Lembrei do comentário que me levou aquela paisagem e sorri,
sabia a resposta à pergunta retórica: Se vem a praia para ler quando o mar, a
praia e o céu, quando o paraíso não está fora, mas dentro de você.
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